Meus pais estavam em pé de guerra e a todo instante se agredindo um ao outro.
Nós tínhamos um pequeno jardim que meu pai gostava de cuidar.
Vivíamos em Moçambique, eu devia ter uns 5 anos e escutei minha mãe zangada dizendo:
Lá vem o senhor Borra-Botas!
Eu perguntei porque ela chamava isso ao meu pai, ela respondeu que era porque sempre que voltava do jardim não limpava as botas. Mas me avisou para eu não falar disso em frente dele.
Eu sempre tive um grande defeito até hoje: quando estou pensando algo de alguém, fico doente se não digo o que penso.
Eu sempre que olhava para meu pai pensava no nome Borra Botas e sentia muita vontade de dizer isso para ele. Eu me lembro o quanto me refreava de o dizer. Eu comecei a ter medo de me descuidar e dizê-lo porque meu pai iria ficar bravo com a minha mãe.
Meu pai não deixava que nós conversássemos à hora das refeições, a ordem era sagrada:
Todos deveríamos comer em silêncio.
Se alguém abria a boca ele dava um grito para nos calarmos.
Mas eu sempre era a que me descuidava.
Um dia, como sempre, estava toda a família a almoçar em silêncio e eu olhei para meu pai e dei um grito:
Borra Botas!
Neste instante, olhei para a minha mãe e vi que a assustei por lhe ver um semblante aterrorizado!
Mas, meu pai, na vez de se zangar, deu uma gargalhada com o que eu tinha falado, coisa que era quase impossível!
Ele riu porque nos viu todos assustados pensando que meu pai se zangaria com o meu grito.
Mas o meu pai deu esta gargalhada porque nunca imaginaria que essa palavra era para ele e que tinha sido a minha mãe a chamá-lo assim.
Eu gostava muito de ler livros de bonecos aos quadradinhos e ele pensou que esse nome vinha de alguma história que eu tinha lido.
Nunca chegou a saber mais sobre a história e minha mãe não me ralhou e nunca mais me falou sobre o assunto para que eu não voltasse a pensar nele e me descuidasse a revelar algum segredo.
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