Jacinta Luz Pereira, Residência: DOVER DELAWARE (2012-até o momento)
Eu era menina, penso que estávamos em 1974, quando África se estava a tornar um lugar perigoso.
Moçambique parecia um paraíso seguro e sem guerras, mas de repente a realidade da guerra veio ao nosso encontro de surpresa.
Eu lembro que estava sozinha na rua e comecei a ver homens vestidos de tropa se escondendo atrás dos carros e havia tiroteio. Eu parei a observar sem medo de ser atingida. Para mim era como ver um filme de guerra. Só me dei conta quando o meu pai apareceu e se zangou comigo por eu estar na rua sem medo.
Pegou em mim e levou-me para casa. Mas mal entrei em casa eu fui para a varanda observar o tiroteio da rua. Meu pai quase me bateu por eu ter ido para a varanda e me explicou que tinha que ficar com portas e janelas fechadas.
Nós tínhamos uma casa de campo e outra na cidade. A casa da cidade era mas segura. Mas para viajarmos do campo para a cidade, no caminho havia negros que mandavam parar os carros e que queimavam os carros com as pessoas dentro. Os meus pais pegaram em algumas coisas colocaram dentro do carro partimos. Meu pai costumava conduzir muito devagar, mas nesse dia eles iam muito calados e meu pai conduzia a grande velocidade. Eu achei aquilo divertido e pedi ao meu pai para ligar a radio. Mas meu pai me disse muito nervoso que eu deveria ficar deitada e calada. Também me falou que não abria a radio porque eu e minha mãe iríamos ficar assustados com as notícias. Meus pais tinham no carro alimentos enlatados e a estrada não era asfaltada e em dada altura uma das latas caiu na minha cabeça e eu fiquei ferida, mas meus pais olharam para trás e continuaram a viagem em grande velocidade. Meus pais começaram a tratar da nossa vinda para Portugal. O meu pai ficou em África e eu vim com a minha mãe. Mas eu não queria vir para Portugal e pensava que, quando crescesse, voltaria para África. Quando chegamos a Portugal e eu teimava que queria voltar para África e minha mãe dizia que tínhamos perdido as casas, mas eu insistia que mesmo assim queria voltar e que iria para lá viver com os negros nas palhotas. Só então é que a minha mãe me contou os perigos a que estávamos sujeitos, a tensão em que viveram aqueles últimos dias que estivemos em Moçambique. Quando, mais tarde, vi o filme ”La Vita É Bella” então percebi que os adultos deveriam mostrar às crianças a realidade das guerras!
Felizmente Portugal é hoje um país sem terrorismo e com um índice de criminalidade baixo comparado com outros países; e, embora eu tenha visitado países perigosos, ainda não entendi o que é viver uma tensão de guerra ou viver temendo ser assassinada!
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